sábado, abril 02, 2005
Portugal é ou não um país do 3º mundo?
Eu acreditava que não, mas a última visita a Trás-os-montes mudou a minha opinião. Se por um lado temos boas estradas em comparação com outros países da nova Europa, falta quem faça ordenamento do território e consiga fazer uma manutenção eficaz dessas mesmas estradas. Portugal decidiu pôr a carroça à frente dos bois. Investe milhões em infraestruturas rodoviárias, que naturalmente são muito uteís para as populações, mas por outro lado tem um investimento muito baixo na educação. Ou seja, os engenheiros que projectam as estradas, se calhar podiam poupar muito mais se tivessem melhores conhecimentos. Mas não, o importante é fazer estradas porque essas sim dão votos.
A paisagem transmontana é agradável à vista, e tivessemos umas aldeias que soubessem conservar o que de mais tradicional há nesta zona, acompanhado com o uso de novas tecnologias, esta era certamente umas das zonas de turismo rural mais apetecíveis da Europa. Mas não, o que encontramos por estes lados são casas como as outras, sem qualquer beleza arquitectónica ao olho do cidadão normal e por vezes sem condições minímas de segurança. A única característica que estas casas conservam das casas tradicionais é o acesso ao 1º andar pelo exterior, algo que se fosse alterado traria inúmeras vantagens para a população, visto esta ser uma região fustigada pelos rigores do Inverno. Para citar o cenário transmontano vejamos que, muitas destas casas ficam por pintar, sem corrimão nas escadas, sem grades nas varandas, etc. Isto como devem imaginar transmite uma sensação desoladora a quem anda por aquelas aldeias. Será que isto é possível num país de 1º mundo?
Agora falemos das pessoas. Não tenho nada contra elas, até porque tenho família lá, acho inclusivamente que as pessoas não têm a culpa da maneira como lidam com a vida. Imagine-se que numa aldeia de menos de 1000 habitantes as pessoas vão de carro para o café. Inacreditável? Mas assim acontece de facto. Bicicletas nem vê-las, qual quê isso é próprio de países de 3º mundo como a Dinamarca, onde cerca de 1/4 das pessoas se desloca para o emprego nesse meio de transporte. Em vez disso, vemos cidadãos de motorizadas, ainda por cima sem capacete. Meus amigos, isto é um sinal claro de terceiromundismo. Numa civilização avançada em primeiro lugar está o bem-estar e segurança dos cidadãos. Quando as pessoas se deslocam em veículos motorizados devem tomar as devidas precauções de segurança, mas não em Portugal gaba-se aquele que anda sem cinto, aquele que anda sem capacete, aquele que deu 120 numa avenida de cidade, aquele que fez Coimbra Algarve em menos de 3 horas. É assim. Daí os números absolutamente negros de sinistralidade que temos, apenas comparáveis com países do 3º mundo. Sendo assim este é mais um aspecto em que nos podemos juntar ao clube.
Vou agora citar um episódio que aconteceu durante a minha estadia. Como pouco há para fazer, ao menos aproveita-se para dormir. Já manhã alta estava eu na chamada sorna, entra uma senhora pela casa adentro, dizendo bem alto "Que tchuba esta...", como se depreende chovia torrencialmente. Até aqui nada do outro mundo apesar, de não ter batido à porta e não ter pedido licença para entrar, mas tudo bem. Seguidamente, não vendo a pessoa que procurava (a minha Tia de seu nome Maria) desata aos berros dizendo "Oh Maria, Maria!". Dirigiu-se à primeira divisão que encontrou e nada, de seguida dirigiu-se para o meu quarto abriu a porta, disse novamente "Oh Maria", mas vendo que não era aquilo que ela queria voltou a encostar a porta e foi-se embora, até porque a minha tia já tinha dado conta de que havia alguém à sua procura e respondeu do andar de baixo "Já vou". É normal deixar-se a porta aberta nas casas de aldeia, mas acho que se exige o minímo de respeito. Vou dizer aqui como é que a senhora se deveria ter comportado: em primeiro lugar vendo que estava um carro dentro do portão e sabendo que a minha tia não tem carta devia ter pensado que havia visitas. Segundo devia ter batido à porta, pedido autorização para entrar em tom de voz moderado. Apercebendo-se que não havia resposta, dirigia-se para a sala verificando de facto que a minha tia não estava lá. De seguida, devia ter vindo ao rés-do-chão ver se a minha tia não estaria por lá. Será que o comportamento desta senhora não é terceiromundista?
Por último a missa. Dado que era domingo de Páscoa como católico praticante que sou fui à missa. Foi inacreditável ver que algumas pessoas nem pela casa de Deus têm respeito. Não estando directamente relacionado com o respeito deve falar-se do coro. As senhoras bem se esforçavam por cantar em condições, mas um som irritante que vinha do orgão estragava tudo. Era um confusão musical tremenda. Deve-se dizer a estas pessoas para fazerem aquilo que realmente sabem e não estar com floreados que ainda pioram as coisas. O corropio de pessoas a entrar e a sair da igreja era impressionante, não parou durante toda a cerimónia. A título de exemplo diga-se que o talhante da aldeia saiu a meio da eucaristia para aviar um cliente e voltou a tempo de assistir ao fim da celebração. Por amor de Deus, a missa não é uma telenovela. A destacar mais dois momentos, o Pai Nosso, rezado a uma velocidade estonteante, sem espaços para respirar, e o abraço da Paz, um reboliço imenso, toda a gente a cumprimentar a pessoa que estava do outro lado da igreja, porque a que estava ao lado não servia para o fazer. Será a celebração religiosa de um país do 1º mundo?
Por fim a viagem de regresso e dizer que foram precisas 5 horas para cumprir 350km, mas enfim são sacrifícios que se têm de fazer quando se precisa de ter uma autoestrada a ligar à principal fronteira terrestre do país.
Bom, aqui ficou o meu testemunho, se calhar demasiado negativista, mas eu amo o meu país e não quis deixar de dar aqui algumas ideias para que passemos definitivamente a ser um país da vanguarda da Europa. Até porque temos ideias, faltam-nos por vezes meios para as pôr em prática, mas acima de tudo vontade e espirítio de sacrifício que é coisa que pouco se vê na maioria dos portugueses.
Fim de Crónica
A paisagem transmontana é agradável à vista, e tivessemos umas aldeias que soubessem conservar o que de mais tradicional há nesta zona, acompanhado com o uso de novas tecnologias, esta era certamente umas das zonas de turismo rural mais apetecíveis da Europa. Mas não, o que encontramos por estes lados são casas como as outras, sem qualquer beleza arquitectónica ao olho do cidadão normal e por vezes sem condições minímas de segurança. A única característica que estas casas conservam das casas tradicionais é o acesso ao 1º andar pelo exterior, algo que se fosse alterado traria inúmeras vantagens para a população, visto esta ser uma região fustigada pelos rigores do Inverno. Para citar o cenário transmontano vejamos que, muitas destas casas ficam por pintar, sem corrimão nas escadas, sem grades nas varandas, etc. Isto como devem imaginar transmite uma sensação desoladora a quem anda por aquelas aldeias. Será que isto é possível num país de 1º mundo?
Agora falemos das pessoas. Não tenho nada contra elas, até porque tenho família lá, acho inclusivamente que as pessoas não têm a culpa da maneira como lidam com a vida. Imagine-se que numa aldeia de menos de 1000 habitantes as pessoas vão de carro para o café. Inacreditável? Mas assim acontece de facto. Bicicletas nem vê-las, qual quê isso é próprio de países de 3º mundo como a Dinamarca, onde cerca de 1/4 das pessoas se desloca para o emprego nesse meio de transporte. Em vez disso, vemos cidadãos de motorizadas, ainda por cima sem capacete. Meus amigos, isto é um sinal claro de terceiromundismo. Numa civilização avançada em primeiro lugar está o bem-estar e segurança dos cidadãos. Quando as pessoas se deslocam em veículos motorizados devem tomar as devidas precauções de segurança, mas não em Portugal gaba-se aquele que anda sem cinto, aquele que anda sem capacete, aquele que deu 120 numa avenida de cidade, aquele que fez Coimbra Algarve em menos de 3 horas. É assim. Daí os números absolutamente negros de sinistralidade que temos, apenas comparáveis com países do 3º mundo. Sendo assim este é mais um aspecto em que nos podemos juntar ao clube.
Vou agora citar um episódio que aconteceu durante a minha estadia. Como pouco há para fazer, ao menos aproveita-se para dormir. Já manhã alta estava eu na chamada sorna, entra uma senhora pela casa adentro, dizendo bem alto "Que tchuba esta...", como se depreende chovia torrencialmente. Até aqui nada do outro mundo apesar, de não ter batido à porta e não ter pedido licença para entrar, mas tudo bem. Seguidamente, não vendo a pessoa que procurava (a minha Tia de seu nome Maria) desata aos berros dizendo "Oh Maria, Maria!". Dirigiu-se à primeira divisão que encontrou e nada, de seguida dirigiu-se para o meu quarto abriu a porta, disse novamente "Oh Maria", mas vendo que não era aquilo que ela queria voltou a encostar a porta e foi-se embora, até porque a minha tia já tinha dado conta de que havia alguém à sua procura e respondeu do andar de baixo "Já vou". É normal deixar-se a porta aberta nas casas de aldeia, mas acho que se exige o minímo de respeito. Vou dizer aqui como é que a senhora se deveria ter comportado: em primeiro lugar vendo que estava um carro dentro do portão e sabendo que a minha tia não tem carta devia ter pensado que havia visitas. Segundo devia ter batido à porta, pedido autorização para entrar em tom de voz moderado. Apercebendo-se que não havia resposta, dirigia-se para a sala verificando de facto que a minha tia não estava lá. De seguida, devia ter vindo ao rés-do-chão ver se a minha tia não estaria por lá. Será que o comportamento desta senhora não é terceiromundista?
Por último a missa. Dado que era domingo de Páscoa como católico praticante que sou fui à missa. Foi inacreditável ver que algumas pessoas nem pela casa de Deus têm respeito. Não estando directamente relacionado com o respeito deve falar-se do coro. As senhoras bem se esforçavam por cantar em condições, mas um som irritante que vinha do orgão estragava tudo. Era um confusão musical tremenda. Deve-se dizer a estas pessoas para fazerem aquilo que realmente sabem e não estar com floreados que ainda pioram as coisas. O corropio de pessoas a entrar e a sair da igreja era impressionante, não parou durante toda a cerimónia. A título de exemplo diga-se que o talhante da aldeia saiu a meio da eucaristia para aviar um cliente e voltou a tempo de assistir ao fim da celebração. Por amor de Deus, a missa não é uma telenovela. A destacar mais dois momentos, o Pai Nosso, rezado a uma velocidade estonteante, sem espaços para respirar, e o abraço da Paz, um reboliço imenso, toda a gente a cumprimentar a pessoa que estava do outro lado da igreja, porque a que estava ao lado não servia para o fazer. Será a celebração religiosa de um país do 1º mundo?
Por fim a viagem de regresso e dizer que foram precisas 5 horas para cumprir 350km, mas enfim são sacrifícios que se têm de fazer quando se precisa de ter uma autoestrada a ligar à principal fronteira terrestre do país.
Bom, aqui ficou o meu testemunho, se calhar demasiado negativista, mas eu amo o meu país e não quis deixar de dar aqui algumas ideias para que passemos definitivamente a ser um país da vanguarda da Europa. Até porque temos ideias, faltam-nos por vezes meios para as pôr em prática, mas acima de tudo vontade e espirítio de sacrifício que é coisa que pouco se vê na maioria dos portugueses.
Fim de Crónica