terça-feira, novembro 08, 2005

 

Crónica de uma doença crónica: Episódio 0

Estamos numa tarde de Janeiro de 2004. Luís Filipe está em casa a ver chover lá fora. É um fenómeno natural bastante apreciado pelo próprio, principalmente quando visto da janela do seu quarto. Esta é a sua janela para o mundo exterior, a sua casa o seu espaço predilecto, onde sente o conforto que a agressividade de certos ambientes não lhe trás definitivamente. É um rapaz dito normal, orgulho da sua família. De uma família humilde, caminhou do campo para a cidade ainda muito jovem, frequentava ainda o ensino secundário. A cidade de Braga tinha sido o seu refúgio nos últimos anos. Tinha entrado na Universidade do Minho em 2000 para o curso de Engenharia Informática e Sistemas. Estava então no 4º ano. Cumpria o curso sem mácula, com a humildade característica que as suas raízes lhe transmitiam.
Com 21 anos, Luís Filipe já vê algumas saídas profissionais à sua frente, procura um emprego estável e bem remunerado, ao mesmo tempo que pretendia manter a proximidade com as suas raízes. Mas não era de todo descartável uma saída para o estrangeiro. Era ambicioso em termos profissionais, e se uma boa oportunidade surgisse do estrangeiro ele não hesitaria.
Desde cedo se habitou a tomar conta de si. Muito recatado e responsável, Luís Filipe era o rebento que toda a família sonhava ter. Gostava de desporto, a sua predilecção ia para o andebol, mas habituado na sua infância a trepar árvores e a descobrir as florestas das redondezas, era hábil e tinha jeito para actividades físicas, sentia-se à vontade na maioria dos desportos, e era muitas vezes solicitado para integrar várias equipas da sua terra. Quando se mudou para Braga inscreveu-se no andebol e é essa a modalidade que ainda hoje pratica.
Na altura em que chovia torrencialmente, Margarida perdia-se por entre as revistas que tinha por casa. Nascera em Braga e sempre vivera nessa cidade. Mudou-se para o Porto para cumprir o sonho de ser médica. Cruzou-se com Luís Filipe na Escola Secundária D. Maria II. Foram da mesma turma durante dois anos, e por vezes partilharam a carteira. Margarida, como rapariga de cidade gostava de sair à noite, de se divertir, de estar com os amigos, de ir ao cinema, as coisas corriqueiras que qualquer jovem de cidade aponta como passatempos favoritos. Apesar disso, num esforço heróico atingiu o objectivo pessoal de entrar em Medicina, um sonho de criança. Margarida era de uma beleza exterior incomum, iluminava dias de chuva, não deixava ninguém indiferente. Tinha defeitos é certo, mas para quem não a conhecia a fundo era a namorada ideal para qualquer rapaz.
Em Lisboa Miguel estava no Messenger a falar com a namorada Ana Maria. Ambos cresceram em Braga e frequentaram a Escola Secundária D. Maria II. Miguel foi o responsável pela ida de Luís para o ABC, o clube de andebol da cidade. As suas opiniões sobre o mundo eram parecidas com as de Luís Miguel, e daí estabeleceu-se uma amizade que se mantia ao longo dos anos. Miguel estava a finalizar o curso de Direito em Lisboa. Sonhava com um futuro de político, mas tinha medo de ser atirado para a jaula dos leões. Ana Maria, muito ligada à família, estudante de Psicologia na Universidade do Minho, encontrou no Miguel as características que procurava para o homem da sua vida. Há três anos que mantinham esta relação, sempre conseguiram conciliar bem o facto de uma auto-estrada ou uma viagem de comboio de mais de três horas os separar. Eram duas pessoas equilibradas e adultas o que ajudava neste aspecto.
Ainda chove lá fora. Luís enfada-se de olhar para janela, olha para a pilha de trabalho que tem à sua frente e decide pôr mãos à obra...


Fim de crónica


Barbaridade:
mas o keh k eh isto?
 
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