quarta-feira, novembro 23, 2005

 

Crónica de uma doença crónica: Episódio 1

Luís tinha decidido ficar por Braga no fim-de-semana. A época de exames estava em força, e decidira aproveitar estes dias de descanso sagrados para refrescar algumas matérias.

Apesar de também estar rodeada de livros por todos os lados, Margarida decidiu visitar a família no fim-de-semana. Achava que esta visita lhe dava novo alento para enfrentar mais uma dura semana de trabalho. Maria Emília, sua mãe pediu-lhe que fosse buscar o jantar. A semana dura de trabalho tinha deixado mazelas em Maria Emília, e cozinhar não era propriamente a sua actividade favorita. Margarida saiu porta fora em direcção ao centro comercial mais próximo.

Decidiu-se por um restaurante de comida ao peso. Margarida gostava daquele fernezim dos centros comerciais, mas as populações do campo deslocavam-se ao centro comercial para efectuar o carregamento semanal, o que não a fazia sentir confortável no meio daquela agitação, e o barulho das pessoas que berravam aos seus telemóveis, como se quem estivesse do outro lado fosse ouvir melhor. Enfim, é o velho método da força bruta. Quando se dirigia para a zona dos restaurantes reparou que Luís Filipe também ali estava. Não lhe apetecia cumprimentá-lo, muito menos perder o seu precioso tempo a falar com ele. Não que Margarida não goste de Luís Filipe, mas Margarida aborrecia-se das suas conversas com Luís Filipe. Facto natural pois Luís Filipe não falava de noite, de cafés de bares, todo esse imaginário que Margarida sentia imensa falta em época de exames. Houve uma troca de olhares, os olhos castanhos-claros de Luís Filipe cruzaram-se com os olhos castanhos, muito cheios de Margarida. Por momentos, os olhos de Luís Filipe faziam Margarida ter alguma vontade de ir lá cumprimentá-lo. Mas rapidamente desviou o olhar e seguiu o seu caminho. Luís Filipe não ficou como é óbvio indiferente, o seu coração acelerou, aquele rosto, aqueles cabelos brilhantes, aquele olhar. Sonhava um dia poder ter alguma hipótese com Margarida. Mas no fundo sabia que ela não era a mulher certa para ele, um jovem pacato. «Não custa sonhar», pensava. E continuou a sonhar durante essa noite, aquela troca de olhares tinha-o feito sentir um pouco de nostalgia. Aquele décimo ano em que partilharam a carteira, em que complementavam o seu saber. Luís Filipe sentia uma forte atracção por Margarida, mas era tímido demais para o revelar. Achava que ela o ia ignorar. Perguntava-se muitas vezes o que é que uma rapariga como Margarida acharia interessante num rapaz como ele. É verdade que modéstia à parte se sentia culto, lia romances e jornais com frequência, tinha uma cultura geral acima da média, que lhe tinha fomentado pela sua curiosidade pelo mundo que o rodeava. Mas mesmo assim, com milhares de rapazes com muito melhor aspecto que eles, e muito mais ao estilo de Margarida, mundanos, incipientes, mas com o dom da sedução que ele definitivamente não possuía, ele nunca teria hipótese.

Depois de jantar sentou-se ao computador. Miguel estava on-line. Foi-lhe contar o que se tinha passado.

- Boas! – escreveu Luís.

- Boas! Tudo bem – disse Miguel.

- Nem acreditas quem é que eu vi!

- Quem diz lá?

- A Margarida, está mais bela do que nunca.

- Deixa-te disso. Ela nunca vai olhar para ti. Há centenas de raparigas bonitas como ela e muito mais interessantes que ela.

- Mas eu acho-a diferente.

- Diferente!? Muitas como ela é o que não falta por aí. Só está no curso onde está porque sabe decorar as coisas. Ela não fala sobre o que lhe rodeia. Queres tu uma rapariga destas?

- Não digas isso. Ela tem os seus defeitos mas…

- Mas o quê! Abre os olhos Luís! O mundo não acaba nela. Um dia vais perceber.

Miguel farto desta conversa que não levaria o seu amigo a lado nenhum decide mudar de assunto.

- Então e como estão as coisas no ABC? Não têm jogo este fim-de-semana?

- Está tudo bem. Estou em forma, com jeito ainda jogo nos próximos jogos. Estou bem e com confiança. O Mister está satisfeito. O campeonato está parado este fim de semana. E tu que fazes?

- Vou ao cinema daqui a pouco. Passam por aqui para me vir buscar. Tenho que me ir preparar. Até mais…

- Até à próxima.

Luís tinha trabalho para fazer, mas os olhos castanhos de Margarida não o deixavam concentrar-se. Achou que uma noite de sono lhe faria bem. Fechou o computador e aconchegou-se na cama, o frio do Inverno não perdoava, e assim fez.


Barbaridade:
desta vez nem tive paciencia pa ler nem pa por o login
mas o keh k eh isto?
 
outra vez?
 
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