sábado, maio 12, 2007

 

Dia 8 - O Fim 8h47

O final custa sempre, tenho aquele aperto no coração de quem nunca mais vai voltar ao parque debaixo de um traje, como este de estudante. Olhar em volta e ver que muitos outros partilham desta emoção. Nada disto é um fim, é apenas um virar de página, e se o fazemos é porque merecemos chorar, emocionar, sentir que a vida de estudante foi boa mas está a chegar ao fim. O sol já batia sobre o recinto e eu ainda continuava por ali.
Num impulso que mistura o seu quê de copos, com o de seriedade e fidelidade, ajoelhei na poeira do parque, e agradeci a quem me trouxe até este ponto, porque a Ele devo muito, e porque O descobri durante os anos de universitário e essa descoberta mudou o meu modo de encarar toda a minha vivência. Sem Ele esta queima não teria sido a fundo, porque Ele me ensinou a dar o que tenho a 100% porque é isso que as pessoas merecem. Nesta queima procurei estar a 100%, e falhei. Falhei com a família. Mas estive muito próximo disso e durmo muito mais confortado.

Último dia de queima. Jantar marcado em cima do joelho por uma família que me adoptou por uma noite, a família do Rio de Janeiro. Sabia que ia ser o fim, como tal procurei-me pôr no ponto para aquela que seria a última como estudante. Jantar condicionado por ser família adoptiva e por não conhecer todas as pessoas da mesa. Acabei por me juntar a membros de outras famílias para me sentir mais confortável.
Paragem obrigatória na Portagem. Fazem-se competições para ver quem tem a taxa da alcoolémia mais elevada, num posto de informação do ministério da saúde. Deprimente, mas definitivamente ainda é queima. Faz-se paragem para reabastecimento, para ficar ainda mais no ponto. Conversa de um lado, bengalada do outro, cumprimento de um lado e outro até à hora de arrancar para o parque. Já são horas de pôr a caminho, enquanto se canta o refrão da música mais estúpida dos Liquido. O fogo aparece no céu, sinal que os Liquido já acabaram a sua actuação. Sem a exuberância de uma passagem de ano, um fogo pequeno, mas que significa muito, significa que está perto o momento final.
Mais uma vez deixo fugir a companhia que me levou ao parque e vejo-me forçado a procurar nova companhia. Circulo pela multidão, e lá encontro caras conhecidas para ver Jorge Palma. Jorge Palma já estava alegre. Ao fim de uns acordes na viola já se cansou e veio para o piano onde se sentia mais confortável. O concerto continuou noite fora, com as palavras agarradas umas às outras, com grandes dificuldades de serem separadas, típico de quem já vê um pouco tremido. Bom concerto.
Pedro Abrunhosa entra de seguida, mas antes ida às boxes para novo reabastecemento, e toma-se conhecimento de algo que não se queria tomar. Mas nada se pode fazer, e procura-se a mesma companhia para um novo concerto. Abrunhosa trouxe novidades, um disco novo que está para sair. Concerto agradável, que ficou marcado por algumas provocações ao público, quando este pedia para Abrunhosa saltar. Abrunhosa procura alguma intervenção social, referências aos poderes instalados, e a Alberto João Jardim, deve ter feito saltar a tampa aos madeirenses que estavam na plateia. Tudo me pareceu exagerado, mas depois também acho que nos falta um pouco disto: de revolta, de saber estar do contra.
Acabados os concertos fui dar uma volta, saborear cada metro cúbico de poeira do parque. A cada barraca uma foto, para me lembrar como tudo era desta vez. A cada pessoa conhecida uma foto, para que estas fiquem gravadas para sempre no album de recordações. E sózinho tudo isto me pareceu distante, deixava as barracas para trás. Encontro a família do jantar solta nas suas danças, mas apeteceu-me continuar, ir à procura. Mais barracas, mais caras familiares. Até aos primeiro raios de luz foi assim, entre reabastecimentos líquidos e sólidos, a vaguear por um parque de daqui a poucas horas deixaria de ser o meu espaço de diversão. De repente fazia-se luz, e perante o desfazer da multidão as caras conhecidas iam aparecendo aos poucos. Os cartolados sobressaíam agora. Muitos deles lavados em lágrimas, resultado de uma mistura forte de sentimentos com álcool. Aproximei-me de algumas (algumas, sim, os homens tem é de consolar e não ser consolados :-) ), partilhei do seu sentimento de que tudo aquilo não mais seria igual, que os melhores anos da nossa vida ficariam para trás, os amigos, as noitadas, os cafés, as épocas de exame. Mas tal como disse no início, tudo isto foi nossa conquista, e vamos virar uma página que mais tarde ou mais cedo tinha de ser virada, e se temos essa oprtunidade agora temos de nos sentir felizes por isso, porque este era o nosso objectivo quando escolhemos a vida académica. A reacção foi muito boa, foi do melhor que me deram nesta queima, ver um sorriso numa cara lavada em lágrimas.
Depois foi juntar-me ao amigo de copos do início de vida académica, o Xico, e saborear aquele fado com o sol a bater de frente, e passar pela a cabeça o filme deste cinco anos. Várias cenas foram passando com as músicas da noite e do dia, e foi tão bom recordar. Aos poucos as guitarras calaram, e o cordão ia-se aproximando. Tentei ganhar uns metros e então ajoelhei-me e tudo se passou tal como se encontra dito acima. Apareceu um colega a desejar felicidades enquanto rezava. Levantei-me da poeira, e aproxima-se uma rapariga que me pergunta se estava mesmo a agradecer a Deus. Na minha sinceridade respondi-lhe que sim, ao princípio pareceu não acreditar, mas rendeu-se com três bengaladas, três beijos, um abraço grátis e um sorriso de felicidades para o futuro. O cordão estava mais perto. Não queria aproximar-me muito da porta, no fundo estava a fugir ao inevitável, mas não queria que este momento acaba-se por nada deste mundo. Tirei as últimas fotos de um parque vazio, com copos de plástico por todo lado. A porta estava cada vez mais perto. Fiquei a admirar aquela porta como se fosse a mais bela obra de arte, e muito lentamente, com um apertar forte no coração saí. Doeu como nunca pensei, mas está chegar um novo capítulo.
Já estava na hora do pequeno-almoço. O Bolero, em Celas, parecia o destino do costume, e aí foi mesmo seguir a multidão, deixar aquele espaço onde vivi de noite para trás. O ponto de desiquilíbrio ainda era o mesmo e conversa foi-se soltando, reencontros inesperados, depois anos a fim de interregno, conversas sobre a melhor forma de escrever para um blog, enfim, se calhar ficaria horas por ali, mas o corpo pedia descanso, e cumpri o seu pedido.

Foi um prazer enorme partilhar os melhores momentos desta queima com todos. Talvez falte um pormenor aqui ou ali, sem dúvida. Não me consigo lembrar de tudo com alguns dias de atraso. Escrevi quase sempre algo quando cheguei, são sem dúvida as partes mais genuínas, e mais turvas destes relatos. Eram sempre escritas sobre muito cansaço e alguma embriaguez. O resto ia saindo aos poucos. Também aqui foi a 100%. Muito obrigado aos pacientes leitores destas crónicas.

Até sempre Queima.

Fim de Crónica

sexta-feira, maio 11, 2007

 

Dia 7 - Boa Noite Senhor e Parque 5h26

Estou exausto, nem o mais confortável dos meus sapatos me salva, mas está à porta o meu último dia de queima como estudante. Vou evitar sofrer por antecipação, e vou deixar as lamechices para amanhã.
O dia começou bem cedo para o horário de queima. Havia um Boa Noite Senhor para montar com todo o prazer é claro. Seria um dia no CUMN, com carpetes para cima e para baixo, com material para cima e para baixo, com coisas para pendurar na parede, com o stress do costume, e aquela sensação que falta sempre meia hora para tudo ficar mais que perfeito. E faltou.
Nem houve tempo para saborear novo jantar na família CUMN, foi enfiar fatias de pizza pela goela abaixo e ultimar pormenores.
O Boa Noite Senhor procurava passar por alguns dos momentos mais marcantes da queima das fitas, rever um pouco o nosso ano e tomar consciência do que posso fazer para sentir Deus mais presente no dia-a-dia. Começou com uma serenta ao vivo, mas que a maioria das pessoas, mergulhadas na escuridão da sala pensou que era uma gravação. Terminada a serenta um carrinho decorado a preceito, ia distribuindo garrafas de cerveja com uma fita e uma caneta, dando a ideia de cortejo. O carrinho retirava-se e começou uma apresentação visual para rever o ano, os seus principais momentos, as sensações ligadas a cada mês, terminando com uma fita a ser escrita por alguém. Foi então pedido, para os participantes escreverem nas fitas o que tinha sentido que Deus lhe escreveria nas suas fitas no final do ano. Seguia-se então um outro momento em que o objectivo era enfeitar o papel de cenário com atitudes para sentir que Deus era cá da malta. Foi o momento que mais me tocou, primeiro pela belíssima interpretação dos meus queridos colegas animadores do tema "Amazing Grace" e depois ver as pessoas a entrar realmente no esquema que tinhamos pensado foi mesmo muito bom. Por último, uma sugestão: "Toma a tua jola e segue-me", enquanto entrava o mesmo carrinho com cerveja à séria e música do parque. A festa continuou no jardim com DJ Cordeiro a bombar de forma inovadora, misturando a partir de dois iPod's e um computador. Acho que se não se os vizinhos não se importarem muito vamos repetir estes after partys no jardim, resultou mesmo muito bem.
Como também é habitual nestas ocasiões é obrigatório ir ao parque picar o ponto com todas as pessoas que estiveram connosco na oração. Como de costume, o largo da Portagem foi ponto de encontro e de reabastecimento, tal a diferença de preços praticados dentro e fora do parque.
Atravessa-se a ponte, dá-se meia volta e então sim entra-se no parque onde André Sardet já toca. Concerto fraquinho faz-nos procurar alternativas. Mas prego atrás de prego, pastilhada atrás de pastilhada, só faz que aumente o número de tentativas de procurar um lugar que nos agrade. E assim foi até começar a actuação do grupo de cordas, a verdadeira descoberta da queima. Desta vez consegui chegar a tempo de ver quase tudo e gostei, não me enganaram por dois ou três temas mais bonitinhos, eles são mesmo bons, e mostram uma alegria imensa enquanto tocam. O concerto terminou com um rasganço em pleno palco que foi bastante aplaudido. Não desejo um rasganço assim, bem na escuridão terá de ser o meu, o mais discreto possível, se é que é possível...
O dia inteiro a carregar objectos escada acima não perdoa e as dores eram mais que muitas, apesar do traje ter ficado na gaveta. Não queria perder pitada do último dia de queima, há que poupar a pouca energia ainda existente.

Fim de Crónica

quinta-feira, maio 10, 2007

 

Dia 6 - O chá daçante 5h37

Sou todo esferovite até à mais profunda das minhas entranhas. Cumpriu-se a tradição do esferovite no chá daçante.
Jantar com a família CUMN é um prazer que ainda não tinha tido em semana de queima, tive-o hoje. Do programa constava também uma ida ao mítico chá dançante, onde não se vê chá, mas apenas as tradicionais bebidas e um pézinho de dança. Sem que tenha sido original, havia que utilizasse saquetas de chá nas orelhas, para estar de acordo com o nome do evento. Do programa constava actuação de duas tunas, a Fan-Farra e a Estudantina, para além do tradicional cantor português na mó de baixo que é ressuscitado pelo chá daçante. Este ano a sorte tocou a Marco Paulo, depois de no ano passado José Cid ter passado pelo mesmo palco. Não consta do programa, mas já é tradição a vandalização do cenário que serviu para o baile de gala. Não se compreendia o facto de haver tão pouco para distruir. O mais descuidado dos destruidores não podia sair de perto da cabra, o único objecto passível de destruição moribunda. Marco Paulo entra em palco com a multidão em delírio, e o bailarico começa, embora no caso de Marco Paulo as músicas são menos dançáveis que as da véspera, para além de serem mais de outro tempo que não o nosso. Como o próprio Marco Paulo foi afirmando que os nossos pais e avós apaixonaram-se ao som das suas músicas. Não o julgava tão velho, confesso, ainda não confrimei estas informações com os meus avós, mas devem ser mais velhos que o Marco Paulo. De referir outro tique curioso deste cantor, a repetição consecutiva do verbo divertir no presente, terceira pessoa do plural, em conjugação refelxa, ou seja, "divirtam-se". Como se ele não se tivesse a divertir mais que nós.
À terceira música de Marco Paulo a Cabra tombou, e corri logo para junto dela com a minha bengala em riste para procurar o sino que ela tinha lá dentro. Em poucos segundos a Cabra ia-se dividido em pedaços mais pequenos, mas o sino já tinha ido para outra bengala que não a minha. Fiquei triste, mas como tristezas não pagam dívidas, havia agora o objectivo de procurar um pedação bem grande para vestir a minha bengala demasiado nua. Essa foi a minha luta de vinte minutos até encontrar um bocado bem satisfatório.
Havia alguma falta de esferovite neste chá daçante, e do nada começou a nevar no recinto do chá. O canhão debitava esferovite dando o efeito de neve. Foi a maior locura. Aos poucos a altura do esferovite foi aumentando chegando a estar acima do tornozelo. Assistiu-se então a banhos de esferovite, mergulhos no esferovite, arrastamento de pessoas por bengalas através do esferovite, entre outras locuras com esferovite.
Não acredito que alguém não tenha levado pelo menos uma bola de esferovite para casa. Então quem andou lá pelo meio a rebolar e a tomar banho no esferovite, deixou um rasto de esferovite à sua passagem. O esferovite entranhou-se de tal maneira que no dia seguinte acordou à coca do meu ouvido, e na entrada do carregador do telemóvel. Só saiu de lá com alfinite.

Fim de Crónica

quarta-feira, maio 09, 2007

 

Dia 5 - O cortejo 4h59

Estou cansado, estou meio enbevecido, doem-me os pés e não tive nenhum autocarro ou transporte que me trouxesse até casa. Até que apareceu o taxi salvador vindo do nada. Transportes de e para o parque a rever nas próximas edições. Se calhar pôr mais autocarros à hora do suposto fim dos concertos não era pior ideia, assim como novos destinos que melhor servissem os estudantes. Parecia uma barata tonta à procura de uma fila de acesso ao taxi que me satisfizesse.
Mas este desabafo já lá vai, e o dia de terça é que interessa. As imagens vividas no ano passado vieram-me à memória. O cortejo de quartanistas é daqueles momentos que por mais que nos esforcemos nunca sairá da nossa memória, porque é uma experiência de dar e receber fantástica, de chegar cheio ao fim de um dia, com muito álcool em cima, mas feliz. Este ano muda a farda. A farda de finalista, nº3 portanto, contempla uma cartola, uma bengala, panos coloridos na lapela, uma roseta na lapela e um papillon, tudo da côr da faculdade a que o curso pertence. Em todos os anos de cortejo, apenas no segundo não houve qualquer novidade na farda, e esta novidade representa muito. Vestido a preceito vaguiei por entre carros à procura de gente conhecida, à procura de uma jola que refrescasse o dia quente que se fazia sentir. Nem um traje ligeiramente mais leve diminuia a transpiração. A tradição pede três bengaladas na cartola e um desejo sincero de felicidades e sorte para a próxima página das nossas vidas. Munido de uma bengala de grossura invulgar, foi difícil controlar o entusiasmo de família, amigos, colegas, conhecidos ou desconhecidos quando se tratava de desejar as maiores felicidades do mundo. Mas ao mesmo tempo é gratificante porque na cara das pessoas notava-se sinceridade nos seus desejos, sempre acompanhados com o sorriso rasgado. Foi sempre assim até a fim, bengaladas, cervejas, amigos em carros diferentes até chegar ao largo da portagem, mais uma vez feliz com o cortejo e ainda ainda a tempo de levar umas bengaladas na minha, já algo mal tratada, cartola. Algumas chegaram mesmo para ver estrelinhas a andar à minha volta.
Não se cumpriu a tradição de um jantar num qualquer centro comercial, falha grave. Mas comi bastante melhor. Mais vinho, menos gasosa lá vão entrando os copos de traçadinho para combater o cansaço desta pequena peregrinação que iria continuar.
Terça é uma noite de sonho no parque, músicos de alto gabarito, e o conceituadíssimo Quim Barreiros. Marante com Diapasão fizeram as delícias do público com o grande sucesso "Linda Portuguesa". O ritmo de bailarico é bonito, mas com dores é difícil soltar o corpo para um passinho de dança, mas a cada música lá vinha um par para deixar o ritmo entrar no corpo. A noite foi de muitos altos e baixos, momentos de euforia e outros de moleza autêntica, dar salto e ficar feito burro a olhar para um palco. Assim que acabou o Quim, decidi abandonar o parque. O resto já se sabe. Dores e cansaço.

Fim de Crónica

terça-feira, maio 08, 2007

 

Dia 4 - Venda da pasta e subida ao palco 6h18

Acordar foi difícil, muito difícil, mas naquele vai, não vai, foi, não porque me tivesse comprometido com algo, mas porque queria mesmo fazer esta venda da pasta.
Não sabia o que era a venda da pasta até há pouco tempo, uma falha grave, mas compreensível para quem nunca passou os olhos por cima do código da praxe, e nem sequer tem esse livro entre os figurantes das suas prateleiras. A casa de infância Elysio de Moura situada na alta de Coimbra, entre o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, vulgo CUMN, e a Filantrópica, acolhe raparigas que não têm possibilidades de ficar junto das suas famílias e todos os anos se fazem pastas em miniatura que se vendem para angariar fundos para esta casa. Cerca das 10h, juntei-me a Ana Rita, companhia para este duro trabalho de vender pastas e à Tatiana, rapariga que vive na casa Elysio de Moura. Para dizer a verdade, o não conhecer bem os motivos desta instituição deixou-me um pouco atrapalhado ao início, mas aos poucos comecei-me a desenrascar, e as pastas começavam a ser vendidas. Bastantes pessoas dirigiam-se mesmo a nós para comprar as pastas, bastante mais conhecedoras da tradição do que eu próprio. Recordo particularmente um senhor de uma ourivesaria na baixa que disse estar à nossa espera e que nos recebeu de uma maneira especialmente simpática, e até atestou o nosso pequeno depósito de água. É claro que os progenitores também dão uma ajuda, e a passagem pelos respectivos postos de trabalho proporcinaram um rápido encher do queijo onde se depositam os donativos. Segue-se almoço no restaurante à escolha da Tatiana, que por acaso escolheu o mesmo que outros colegas, o McDonald's da Praça da República, que de renpente se tinha transformado numa cantina de vendedores de pastas. O saco das pastas já ia um pouco para o vazio, e houve possibilidade de reabastecer junto de outros vendedores. Mais um voltinha mais uma pastinha vendida e assim foi até à hora do lanche preparado pela comissão organizadora da Queima das Fitas. Aí deu para perceber que há muito mais raparigas a deixar as suas camas para vender pastas do que rapazes, foi assim um agradável fim de dia.
Jantar em casa, pela segunda vez na queima. Há a tradição dos finalistas subirem ao palco no dia da sua faculdade. Segunda é o dia da faculdade de ciências e tecnologia, e havia essa expectativa da minha parte. Dados os preparativos para o cortejo do dia seguinte, já havia muitas batinas que tinham ficado em casa decoradas a preceito para o efeito e pouca gente para subir ao palco. Mas antes concertos de Linda Martini, Xutos e Estudantina. Os Linda Martini puxaram pouco pelo público, os Xutos dinossauros da Queima tiveram uma actuação ao seu estilo com muitas músicas desconhecidas, por fim a Estudantina a tuna que mais aprecio, ao seu nível, com o Jacaré Hugo Repolho na pandeireta. Pensava que chegaria cedo a casa, mas quando a Estudantina saiu do palco já eram mais de cinco horas de terça-feira, e por fim era chegada a vez dos finalistas. Não éramos assim tantos, mas acho que quem foi para casa fez mal, porque para quem não é artista não pode aspirar a pisar o palco mais vezes e há que aproveitar esta. Mais umas fitas abanadas, uns f-r-a's, uns saltos e uma corrida em direcção aos 15 resisitentes da fila da frente que ainda se encontravam por ali. Já era bem tarde, e para um dia que tinha começado tão cedo não estava nada fácil. Mas foi bom subir ao palco.

Fim de Crónica

segunda-feira, maio 07, 2007

 

Dia 3 - Garraiada e zona vip 4h07

Fraquinho, muito mais fraquinho mas por uma boa causa. O dia que provavelmente menos me atraíria no parque, mas o jantar com a família bairro social assegurou o furo no meu bilhete geral.
O dia começou bem cedo para o horário de queima, havia uma garraiada no programa, concentração à qual nunca antes me tinha apresentado, principalemente pelo coincidência de jogos da Briosa, no mesmo dia, à mesma hora. O cansaço acumulado não deixou cumprir o programa de festas que inclui normalmente uma directa, uma viagem de comboio, e uma dormida no areal da praia da claridade na Figueira da Foz. O programa começou com uma viagem de carro, com um sol de fazer inveja a bater de frente. Desembarco numa Figueira que sofreu a invasão anual dos estudantes de Coimbra. Já está na hora da garraiada, há que procurar a praça de touros e o local de entrada dos fitados. Encontrado esse local no momento certo, o momento em que entrava a Faculdade de Ciências e Tecnologia. Éramos bastantes, não fosse a nossa faculdade a maior. Houve direito a volta de honra, aplausos, pegas comigo a fazer de touro, f-r-a's, enfim de tudo um pouco, vou levar este momento no meu álbum de recordações. Seguiu-se então o espetáculo tauromático, do qual não sou particularmente fã, mas que com o ambiente que se vivia nas bancadas, o coliseu figueirense rebentava pelas costuras, até foi engraçado. Por fim, a parte mais apreciada e divertida, as vaquinhas que são lançadas para os estudantes tourearem. É ver toda a gente a fugir quando a vaca corre na sua direcção e toda a gente a sufocar a vaca quando um dos bravos que circulavam pela arena pegava a vaca. Depois foi aproveitar o sol de fim de tarde a bater no mar numa bela esplanada até o relógio bater na hora de jantar.
À noite o jantar Social no restaurante "O Sapatilha", que mais parecia uma cantina de um quartel militar, tal a concentração de testosterona em tão reduzido espaço, começou a odisseia de domingo. Há que aconchegar bem o estômago, aproveitar a bebida que está incluída no menu, porque depois a bica fecha. Neste jantar surge o cocktail mais deplorável de sempre, o Bairro Social, cocktail à base de vinho branco de pressão, cerveja, arroz de feijão, coirato, entremeada e febra. Parte-se então para o parque com paragem obrigatória na portagem para seleccionar os passageiros que passam a ponte. Feita essa selecção entra-se no parque onde já actuam os Blasted Mechanism. Não sou grande fã confesso. Assim que face ao convite que me foi feito pelo o melhor ex-comissário da queima das fitas de 2006, o Jacaré Vinny, fui até à zona vip. Tem uma bela esplanada, cerveja e água à pala, e muitas casas de banho para pouca gente. Depois tem uma varanda com uma vista não tão privelegiada sobre o público e os concertos. Gosto de sentir o cheiro da multidão, mas não deixo de apreciar uma bela cadeira a meio da noite.
A venda das pastas estava marcada para as 9h30. Prometia ser um acordar bem difícil, por isso abandonei as instalações da festa.

Fim de Crónica

domingo, maio 06, 2007

 

Dia 2 - O baile de gala 4h54

Fraquinho, eu sou um franquinho. Ao fim do segundo dia já tenho que deixar as danças de salão para vir recuperar forças. Felizmente que há saudáveis diferenças entre todos nós, mas este meu metabolismo que não me deixa dormir menos de 7h30 aborrece-me.
Jantar em casa por estes dias é coisa rara, mas hoje houve oportunidade e fiquei-me pela família de sempre. É sempre difícil encaixar a família na queima, tenho dificuldade em fazê-lo, não por vergonha, mas por manifesta estranheza aos costumes da queima de hoje.
O sol quando nasece no baile não é para todos. Primeiro é só para alguns que comem e bebem como manda a tradição. Os pobres esperam cá fora até que acabe o espetáculo.
Com mais de bastante tempo de atraso lá se abre o sol para quem esperou cá fora. Faz-se fila para as fotos mas cobiçadas. As senhoras sempre mais requisitadas, como é de esperar dada a beleza e exorbitância de seus vestidos, ao contrário da simplicidade da maioria dos estudantes, apenas com o papillon e a cinta de gala. Surgem rasgos deslubrantes de beleza, capaz de chamar a atenção do mais desatento dos homens. De tal maneira que nem sempre nos sabemos onde fica o lado certo para nos virarmos. Tudo é pago a peso de ouro, principalmente a entrada, que fica encravada a quem vai à procura de alguma coisa fora do normal, quando se trata de facto de um baile onde se dança e se bebe. O cenário invoca, ainda que de forma muito discrta, a selecção das sete maravilhas de Portugal, e faz-se um apelo discreto ao voto em Coimbra.
Depois de algumas hesitações, finalmente, e a muito custo, graças a um empurrão fui para o mega salão de baile que se tinha aberto. Aos primeiros passos percebi que todo e qualquer tipo de dança me causa aflição, mas aos poucos cai-se no hábito, e aprende-se mais de dança numa noite que no resto da minha curta, mas já longa existência. Vários pares foram passando, sem que nenhum deles tivesse deixado as suas pegadas nos meus sapatorros. Os meus parabéns a eles todos, por terem daçando um indivíduo como eu.
Contínuo a pensar que para o que é oferecido nesta noite o seu preço continua bastante acima do que real valor da oferta, mas ainda assim acho que valeu a pena, nem que seja só para poder comentar qual a rapariga que mais nos fascinou no café do dia seguinte.

Fim de Crónica

sábado, maio 05, 2007

 

Dia 1 - A primeira noite no parque 7h26

Há sempre a expectativa de ver o que mudou, se o espaço está melhor, se é desta que vamos chegar a tempo deste ou daquele concerto, enfim de chegar ao parque...
Jantar fora na queima é o usual, ninguém consegue resistir ao convite das várias famílias para jantar, ou de organizar o seu próprio jantar de família. Jantei na família PUI.
À quinta vez ainda conseguimos descobri coisas novas na academia. Descobri uma coisa chamada sarau, uma mostra cultural das suas secções, das suas tunas e coros. Um espetáculo que dura horas, mas que deve ser um teste de resistência a qualquer pessoa que tente assistir a todos os concertos. Cheguei já o espetáculo ia adiantado, mas foi novamente surpreendido. No palco estava um grupo que tocava coisa tipo folk e marchas soviéticas. Tinham um ritmo e enrgia fantásticos. Onde é que eles andaram nestes anos todos? São o grupo de cordas da secção de fado da Associação Académica de Coimbra.
Pausa no Sarau, partida para o Parque. Na queima todos os caminhos vão dar ao parque. Primeiro algomerado de gente: largo da Portagem. Alguém pergunta se já chegámos ao Parque, já não falta muito. Corre o rumor que os Gift vão começar a sua actuação, há que acelerar o passo para não perder uma das melhores actuações desta queima. Ainda me consegui mais uma vez surpreender, desta vez pela negativa. A entrada mudou de local. Em vez do largo do costume com vista para o rio, agora a saída tem vista para a estrada. A tradição esfumou-se, e não haverá mais subidas de rampas e mergulhos para o rio. Fico triste pela locura que havia nas pessoas, mas tenho que reconhecer que a segurança é maior.
Os Gift não desiludem, grande actuação. Depois é descobrir cada detalhe, os pontos possíveis de encontro, e experimentar a sensação de multidão. O espaço diminui, circular é mais difícil. O resto não muda, é a locura. O som é cortado cada vez mais cedo. Estaremos a voltar aos velhos tempo? Depois o arrastar dos foliões para as saídas continua a ser demorado, e há sempre alguém que se perde pelo caminho.
Toda esta visão está cheia de cansaço, de dores nas pernas, de inércia para mexer a boca para dizer alguma coisa, ou reagir a alguma piada. Acumular cansaço ao cansaço não dá muito bom resultado, mas não se pode parar, porque a queima não deixa.
Chegar a um bunker para dormir pode ser ainda mais complicado, portas fechadas então nem queiram saber. A relva quase chamava por mim. Mas ao fim de 20 minutos as portas do bunker abrem-se e vou em direcção ao sono profundo.
Se não fosse o jogo da Briosa ainda agora estava nas profundezas... Mas há prioridades na vida.

Fim de Crónica

sexta-feira, maio 04, 2007

 

Dia 0 - A serenata 6h57

O sol caiu no horizonte de coimbra. Vêem-se pessoas vestidas de forma pouco original, estão todas de igual e todas procuram o mesmo. Os morcegos sairam à rua... Começou a minha última queima das fitas.
A corrida aos restaurantes é imensa, mas como manda a praxe o atraso é no mínimo de uma hora, sempre foi assim, e sempre será, mas pena que não esteja cá para ver o próximo. Jantar sempre bem regado, desta vez havia um toque de sumo no vinho que me deixou em boas condições durante algumas horas.
A serenata é um momento solene de abertura, nunca o tinha visto, o primeiro gesto de traçar a capa tinha sido feito em sítio pouco próprio sem vista para os fadistas. Por razões várias nunca mais lá voltei, decidi que era este ano, por que é a última. Acho que o fado de Coimbra é sempre mágico, mas sentir que os esmagamento da multidão pode vir de qualquer lado não é nada confortável. Qualquer movimento é impossível. Mudo de sítio, o mesmo da primeira serenata, e ouço a serenata ao mesmo tempo que a vejo numa tela lá ao longe. Sentir o som das cordas da guitarra a mexer comigo, porque mexe, porque é a última vez que elas ecoam de traje sobre o corpo.
Um FRA dá o pontapé de saída para uma noite de farra. Couraça é paragem obrigatória em noite de Queima. Gente acumulada no meio da rua, asfixiam qualquer carro que tente passar no meio. Mata-se a sede da serenata, e decidi-se o convívio para que se vai. Tal como no primeiro ano, medicina estava a chamar por mim. Desta vez o Xico não encontrou a nota de 20€ que nos abriria as portas do convívio, teve de sair do bolso. Depois foi tentar deixar a música agitar os meus pés de chumbo e o meu corpo pouco ágil. Sempre a repôr líquidos, e aos poucos a noite foi ficando mais turva.
A chuva miudinha cai, tal como a primeira vez. Tantos pontos de contacto com a primeira vez só podem fazer aumentar a nostalgia. Entre encontros desencontros, conversa mais ou menos agradáveis, companhias mais ou menos alegres, esvai-se o tempo e já há luz matinal. Tal como da primeira vez sigo a pé, debaixo de chuva até ao meu porto de abrigo. São 6h57 e este foi o dia 0.

Fim de Crónica

 

O dia sem fim... (1/5/2007)

Já é dia do trabalhador, mas antes não fosse. Estou mesmo bem contente, mas tenho de me contentar com o dormir, e prolongar esse contentamente pelos sonhos. Quero também aproveitar o cansaço para conseguir descansar, porque amanhã pode não o haver, outras preocupações podem vir ao de cima e empurrar o cansaço para outro lado.

Fim de Crónica

 

A minha primeira vez, Novabase @ Lisboa (30/4/2007)

Esta de Lisboa do trabalho não me agrada tanto como a Lisboa do sol de fim de tarde. A confusão dos transportes, o tamanho da cidade, a distância entre as pessoas...
Homem precavido vale por dois, e nada como imprimir horários de autocarro, e metros, e cenas...
Descobri que afinal também há centros comercias de província na capital. Comparar as Amoreiras ao Golden é descabido, ou não, cada um à dimensão da sua cidade. Dar voltas a um centro comercial para encher um chouriço chamado tempo, e encontrar apenas uma loja que me convidasse a entrar parece preocupante em tão grande metrópole, mas nada de grave.
Decido fazer bombardeamentos de sms's em várias direcções, e ainda não houve ricochete. Mudo-me de local, farto de encher o chouriço das Amoreiras, venho echer o chouriço Novabase. Tem mais conforto. O cheiro a empresa séria, que há alguns meses já não sentia. Vêm-me à cabeça as conversas de corredor em frente à máquina de café, as máquinas de beber água com os garrafões virados de pernas para o ar. Deixar de ser jovem é tão difícil. É olhar para o lado e ver fatos, ver compustura, e olhar para minha sapatilha, a minha calça de ganga larga e a espreguiçar-me no sofá azul da empresa.
O dia está a chegar, get ready.

Fim de Crónica

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